domingo, 3 de julho de 2011

on

Na terça-feira à noite ouvi aquela piadinha pela milésima vez. Eu e um grupo de amigos havíamos saído para jantar e, na hora de pagar a conta, alguém a lançou:

- Vamos lá Carlos, já que você é o matemático da mesa, faça os cálculos de quanto cada um deve pagar...
Esboçando aquele sorriso amarelo e bem pouco sincero, coloquei:
- Deixe-me pegar o meu celular, usarei a calculadora!
Ah, o espanto foi geral! Todos ali esperavam de mim a rápida resposta com os valores que cada um deveria pagar. Estas são situações que você já deve ter presenciado: aos olhos de muitos, ser matemático significa ser rápido nas contas mentais e usar uma calculadora significa se render diante do problema e assumir a inabilidade para resolvê-lo. Alguém ainda emendou: “se você quiser, te empresto o meu notebook...”. Diante das brincadeiras, nos divertimos um bocado, mas, na volta para casa, refleti um pouco sobre o que ouvi. De alguma forma, quando pensamos sobre matemática, computadores ou calculadoras, idéias como aquelas estão realmente presentes no universo simbólico das pessoas. Quando utilizei a calculadora e não agi da forma esperada pelos meus amigos, contrariei a imagem de especialista em cálculos mentais e evitei que a conversa atingisse o ponto absurdo no qual alguém acabaria colocando algo do tipo: “É Carlos, só sendo matemático mesmo, eu não tenho jeito para isso! Nunca consegui fazer contas de cabeça desse jeito, matemática é um dom”. Seria apenas uma questão de tempo até que alguém contasse uma história lamentável sobre algum péssimo professor de matemática que teve no Ensino Fundamental.

Extraído do livro: Novas Tecnologias no Ensino da Matemática,  Carlos Mathias; créditos do desenho Waine Junior
faça o download do livro aqui

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