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Mandela na ilha Robben |
Transcrevo abaixo a última anotação de Mandela do livro conversas que tive comigo
16.10.98 Os Anos da Presidência. Capítulo Um.
Homens e mulheres, de toda parte do mundo, ao longo dos séculos,vêm e vão.
Alguns não deixam nada para trás, nem sequer seus nomes. Parece que nunca existiram.
Outros deixam alguma coisa: a lembrança persistente das maldades que cometeram contra outras pessoas; em gritante violação dos direitos humanos, não apenas limitada à opressão e a exploração de minorias étnicas ou vice-versa, mas que até fazem uso do genocídio para manter suas políticas medonhas.
A decadência moral de algumas comunidades em várias partes do mundo se sobressai entre outras pelo uso do nome Deus para justificar a manutenção de ações que são condenadas pelo mundo inteiro como crimes contra a humanidade.
Dentre a multidão daqueles que ao longo da história se dedicaram à luta pela justiça em todas as suas implicações estão alguns daqueles que comandaram exércitos de libertação invencíveis que se empenharam em operações impressionantes e se sacrificaram imensamente de modo a libertar seu povo do jugo da opressão, a melhorar a vida de seu povo por meio da criação de empregos, construção de casa, escolas, hospitais, pela introdução da eletricidade e ao trazer água limpa e saudável para as populações, especialmente nas áreas rurais. A meta deles era remover o abismo entre ricos e pobres,instruidos e não instruídos, os que têm saúde e aqueles que so que podem ser prevenidas.
De fato, quando regimes reacionários são finalmente derrubados, os libertadores tentaram da melhor maneira que podiam e dentro dos limites de seus recursos realizar estes nobres objetivos e introduzir um governo limpo, livre de todas as formas de corrupção. Quase todo indivíduo do grupo oprimido acalentava a esperança de que seus sonhos afinal seriam realizados, de que eles por fim recuperariam a dignidade humana que lhes havia sido negada por décadas e até mesmo séculos.
Mas a história nunca para de pregar peças, mesmo nos mais experientes e mundialmente famosos combatentes da liberdade. Com frequência, revolucionários do passado sucumbiram facilmente à ganância, e a tendência de desviar recursos públicos para o enriquecimento pessoal finalmente os dominou. Ao acumular vasta riqueza pessoal e ao trair os objetivos que os tornaram famosos, eles virtualmente desertaram do povo e se juntaram aos antigos opressores, que enriqueceram ao impiedosamente roubarem dos mais pobres dos pobres.
Existe respeito universal e até admiração por aqueles que são humildes e simples por natureza, e que têm absoluta confiança em todos os seres humanos independentemente de sua posição social. Estes são homens e mulheres, conhecidos e desconhecidos, que declararam guerra total a todas as formas de brutal violação de direitos humanos onde quer que tais excessos ocorram no mundo.
Eles são geralmente otimistas, acreditando que, em toda comunidade no mundo, existam bons homens e mulheres que acreditam na paz como a mais poderosa das armas na busca por soluções duradouras. A verdadeira situação em campo pode justificar o uso de violência que mesmo bons homens e mulheres podem achar difícil de evitar.
Mas mesmo nesses casos o uso da força seria uma medida excepcional, cujo objetivo básico é criar o ambiente necessário para soluções pacíficas. São esses bons homens e mulheres que são a esperança do mundo. Seus esforços e conquistas são reconhecidos mesmo depois de sua morte, e mesmo muito além das fronteiras de seus países, eles se tornam imortais.
Minha impressão geral, depois de ter lido várias autobiografias, é de que uma autobiografia não é apenas um repertório de acontecimentos e experiências em que uma pessoa se envolveu, mas que também serve como uma espécie de projeto sobre o qual outros podem pautar suas próprias vidas.
O presente livro não possui essa pretensão, uma vez que não tem nada para deixar para trás. Quando jovem eu... tinha todas as fraquezas, erros e indiscrições de um garoto do campo, cuja amplitude de visão e experiência era influenciada principalmente por acontecimentos na área em que fui criado e nos colégios para os quais fui mandado. Eu me apoiei na arrogância para esconder minhas fraquezas. Quando adulto, meus companheiros me elevaram e a outros companheiros prisioneiros, com algumas exceções importantes, da obscuridade a um monstro imaginário ou um enigma, embora a aura de ser um dos presos cumprindo pena de mais longa data do mundo nunca tenha totalmente evaporado.
Uma questão que me preocupou profundamente na prisão foi a falsa imagem que involuntariamente eu projetava para o mundo exterior, a de ser considerado um santo. Eu nunca fui santo, nem mesmo com base na definição mais mundana de um santo, a de um pecador que continua tentando.
Nelson Mandela Conversas Que Tive Comigo da Editora Rocco é um relato impressionante sobre o homem Mandela, de preso político a passar mais tempo na prisão, e até mesmo antes de sua libertação, Mandela já traçava as bases de uma nova África do Sul, livre do Apartheid e unida como uma nação forte e exemplo de resgate da dignidade humana.
Nelson Mandela Conversas Que Tive Comigo da Editora Rocco é um relato impressionante sobre o homem Mandela, de preso político a passar mais tempo na prisão, e até mesmo antes de sua libertação, Mandela já traçava as bases de uma nova África do Sul, livre do Apartheid e unida como uma nação forte e exemplo de resgate da dignidade humana.
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